sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Efeito borboleta: o poder de fogo da internet

Está em todos os jornais, nas timelines de milhares de twitters, nas tevês e rádios, incomodando o sono de muito assessor de imprensa, embaixadores e lideranças políticas. O WikiLeaks, uma organização que se propôs a divulgar informações sigilosas sem lucrar com isso, tem causado um verdadeiro tumulto nas relações dos Estados Unidos com uma série de países-chaves, tais como Irã, Coréia do Norte, China, Brasil, Venezuela, França entre dezenas de muitos outros.

Os dados divulgados pelo site são trocas de informações entre embaixadores do governo americano, uma espécie de conversa mais informal sobre os países que eles visitam ou conhecem. O fato de posicionar o governo americano sobre determinado país, usando palavras não muito agradáveis não é recriminável, na minha opinião. Difícil, pra mim, é achar que informações como essas, trocadas por emails, não fossem vazar a qualquer momento.

Julian Assange, fundador do site, é uma pessoa com um perfil no mínimo interessante e muito louco, diga-se de passagem, porque ele comprou uma briga imensa com o governo americano, ainda a maior potência econômica mundial. Por conta disso está recluso, sob a justificativa de ser procurado por crimes sexuais, tais como transar sem camisinha.

Esse australiano tem causado a ira dos poderosos por divulgar informações verdadeiras, pasme. Não foi ele que escreveu esses 250 mil documentos; não foi ele que criticou um ou outro líder político; não foi ele que agiu com total falta de ética ao encobrir alguns crimes de empresas reconhecidas mundialmente. Assange está pagando um preço alto por colocar na mídia a sujeira escondida embaixo do tapete yuppie. Aliás, muito bem escondida, tanto que a grande imprensa dificilmente levantava suspeita sobre alguns fatos.

Ele mesmo, em um artigo que li no Observatório da Imprensa, afirma que o WikiLeaks cunhou um novo tipo de jornalismo: o jornalismo científico. (o texto completo está aqui http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=619IMQ015). Essa forma de divulgar informações corre por fora das grandes mídias e é muito mais crítico.

E um jornalista crítico vale muito, mas muito mesmo. Ele vai checar e re-checar as informações, vai questionar a si mesmo, vai além nas perguntas, vai incomodar nos questionamentos. Ajuda muito quando ele tem conhecimento sobre o que fala. Agora, sejamos honestos: qual a proporção de profissionais com esse perfil?

Me especializei em jornalismo científico na Unicamp, este ano, e reconheço que a base para o desenvolvimento dessa vertente é a internet. Blogs, fóruns de discussão, revistas online e newsletters tem se mostrado terrenos muito mais férteis para reflexões críticas. São territórios “livres” e gratuitos. Discutir um fato, pesquisar o histórico dele, desconfiar de pesquisas e sempre dar um Google para confirmar informações é um procedimento básico nosso. Isso confere credibilidade a informação divulgada.

O dilema do novo assessor de imprensa.

Olha isso: eu trabalho do outro lado da moeda, no campo da assessoria de imprensa. Defendo o interesse das empresas, que na maioria das vezes é o lucro. O paradigma aqui é sempre expor só o que é bom, nunca o que é ruim. Porém, com uma visão mais ampla, é possível dizer que nem sempre há notícias boas para se dizer. Sites como o WikiLeaks vão brotar constantemente, e no âmago destes veículos está levantar a poeira escondida.

E eu como assessora, como fico? Minha opinião: assessor de imprensa tem que estar preparado o tempo todo para crises como essas. Tem que estar preparado para dizer a verdade e conscientizar seu cliente de que a verdade vai prevalecer sempre, doa a quem doer. Contemos sempre com o fator ruído, inerente a comunicação empresarial.

Isso obriga as empresas a andarem na linha, isto é, se quiserem manter uma posição de respeito perante seus consumidores. Ao ignorar a verdade e impacto de sites como o WikiLeaks ou blogs sobre consumo o empresário corre o risco de ter sua credibilidade ferida, e confiança é igual cristal, quando quebra...

Não dá mais para enganar o consumidor do século XXI. Ele vai reagir, vai falar, vai procurar a imprensa, o PROCON, os seus direitos. Na internet ele vai comentar num blog, no twitter e no facebook dele o quão tal empresa agiu mal. E cuidado, assessores, ao se fecharem para os pequenos questionadores. Juntos eles fazem um escândalo. Efeito borboleta, conhece?

Esse assunto rende mais e mais posts, mas por hoje vou me atentar apenas ao seguintes pontos: crítica no jornalismo fomenta a verdade, porém, deve ser uma crítica embasada, comprovada. A internet nos dá acesso para uma ferramenta essencial à crítica: a pesquisa. Jornalistas: pesquisem sempre, além do que vocês fariam normalmente. Falta tempo? A internet ajuda muito nisso.

Empresários: atentem ao poder de fogo da internet e o impacto fortíssimo que ela gera. Investir na comunicação mais direta com o consumidor via redes sociais, sites ou ouvidorias é um passo inovador e pode gerar um resultado positivo, pois mostra que a empresa está aberta ao diálogo com quem compra seus produtos. É a quebra de um paradigma e por isso, leva um tempo para ser assimilada, mas vai se tornar regra. Acredite.

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