terça-feira, 5 de outubro de 2010

Na dúvida, opte pelo romance. O literário.

Devido a algumas coincidências faz-se necessária a minha retratação sobre a presença do romance em meu último fim de semana. Antes de mais nada, deixo claro que não há referência aqui sobre algum relacionamento que eu esteja vivendo ou coisa assim. Falo do romance literatura, este que encontramos em uma seção em livraria ou biblioteca.

Momento melhor não haveria para ler sobre o romance. Um sábado, dia de descanso, chuvoso, com um dia frio convidativo e caseiro. Ao passar os olhos sobre minha micro coleção de livros, avistei um exemplar de A Arte do Romance, de Milan Kundera, autor mais reconhecido por A Insustentável Leveza do Ser. Ainda que despretensioso, trata-se de um livro sobre teoria literária, um estilo de literatura tão interessante quanto alguns livros em si analisados.

Diferente do que a gente pensa, romance não é feito só na base do amor. Kundera define o romance como um veículo que alimenta nossa vontade inerente de julgar antes de compreender, mas em partes, pois o romance só vem a colaborar com as incertezas. Um caso muito fácil de compreender essa afirmação – Dom Casmurro, de Machado de Assis. Nessa ótica, trata-se de um ótimo romance, acredito, porque deixa uma grande dúvida no ar: a traição de Capitu foi realmente consumada?

Assim, Kundera cita com freqüência um personagem de Franz Kafka, K., e Anna Karenin, de Leo Tolstoi – ambos serão julgados pelos leitores por suas personalidades e ações interrogativas, duvidosas, complicadas.

Não sou formada em Letras ou Estudos Literários para julgar aqui a complexidade do romance, mas sim para contar as minhas coincidências com ele, certo?

Bem, as ideias de Kundera já estavam me absorvendo, quando percebi que em quase todas explicações dele havia uma menção sobre K., o personagem de O Castelo. Sincronicidade ou não, O Castelo foi o último livro que peguei “emprestado” de meu pai, e trouxe para minha coleção.

Aquela capa não me convencia a lê-lo (ah, as aparências sempre nos enganando). Precisou o Kundera me dizer – É um clássico, pode ler.

E comecei a ler. E simplesmente não parei. A forma como o texto é escrito, sem um início de tempo nem um lugar preciso, sem descrições de como é ou está K., envolve o leitor. Queremos saber até onde vai esse “agrimensor” que parece, em sua própria defesa, estar ali para fazer um serviço, quando o ambiente todo em volta dele duvida disso. O mais genial é que K. não nos dará respostas exatas...

Por alguns momentos pensei: esse cara está delirando, sonhando alguma coisa. Em outras, uau... parece que ele está no lugar certo, para descobrir algo maior. Uma viagem ótima, garanto.

Enfim, não terminei de ler o romance de Kafka, mas em breve isso ocorrerá. E o domingo passou, a segunda chegou. Saí e cheguei em casa por volta de 12h, para almoçar. Liguei a tevê e o que estava no ar? O desenho dos Simpsons. Ok, almoçar vendo isso é até divertido... Agora vem o mais engraçado: adivinhem o tema do desenho? Romance.

Eu ri so-zi-nha. Na animação, Marge questiona Homer: “será que o romance deixou as nossas vidas? Homer, Bart e Lisa, e claro, Marge, dão seus relatos sobre histórias de romance que viveram, só que o mais engraçado é que em todas as situações, os romances deram muito errado. Que será que isso quer dizer, hein?!

Esse é o ponto de vista mais popular do romance, a relação amorosa. Mesmo assim, é possível dizer que histórias de relacionamento danadas, daquelas mais sofridas, são as que mais marcam as pessoas. Logo, o romance é por si só algo complexo e as vezes leva a gente pro bueiro...

Mas na literatura, os ótimos romances não são necessariamente só sobre amor. Eles são mais inquietos, misteriosos, porsupuesto muito mais interessantes.

Fica uma frase boa do Kundera sobre o romance: “Agrada-me pensar que a arte do romance veio ao mundo como o eco do riso de Deus”. Não deixa de ser uma verdade...


Adendo em 07/10/2010 - "Uma humanidade sem romances, não contaminada pela literatura, se pareceria com uma comunidade de tartamudos e afásicos, atormentada por problemas terríveis de comunicação causados por uma linguagem ordinária e rudimentar". Mário Vargas Llosa, Nobel da Literatura 2010.


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8 comentários:

  1. Que texto agradável e instrutivo, Pat, muito bem escrito, parabéns, gostei bastante. Me deu imensa vontade de ler agora o Kundera e o Kafka, é o que farei em breve.

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  2. Jamil! tudo bom? Faça isso, de verdade! Recomendo A Insustentável Leveza do Ser, do Kundera, e o Kafka, sem coments. ele por si só se apresenta muito bem! Beijo e obrigada pela leitura. =)

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  3. Tudo ok, Pat, obrigado, espero que contigo tudo bem também. Olha só que coincidência, ontem eu baixei um filme que já de há muito tempo estou pra assistir, com atores que eu amo, o Daniel Day-Lewis e a Juliette Binoche. Adivinha qual? A Insustentável Leveza do Ser, que é baseado justamente na obra do Kundera. Amanhã vou a um sebo buscar um livro do Rilke (Cartas a um jovem Poeta) e vou ver se encontro o livro do Kundera. Você já viu o filme? Acha que teria alguma ordem mais conveniente, tipo, primeiro ler o livro e depois assistir o filme, ou o contrário? Obrigado por sua atenção e simpatia. Beijo!

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  4. Hello, Jamil!
    Olha só a sincronicidade desse Kundera e seus pitacos sobre literatura! ahaha. Então, eu vi o filme após ler o livro, e achei ótimo. Acho que tanto faz vc ver um ou outro primeiro. Claro que o livro vai ter muito mais detalhes sobre a vida da Sabrina, na minha opinião, a personagem mais kitsch do livro, por isso divertida.

    Acho que vc vai gostar dos dois momentos de A Insustentável... depois me conte sua avaliação! rsrs
    beijo!

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  5. Oi, Pat, comprei o livro. Primeiramente vou lê-lo, assim como você, para depois assistir ao filme. Passei na Livraria Cultura e acabei levando também o A Arte do Romance.
    Sim, claro, em breve comentarei contigo minhas impressões.
    Obrigado, cuide-se bem,
    bons estudos e leituras!
    Beijo!

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  6. Jamil, se eu te contar que já trabalhei na Livraria Cultura de Campinas tu bota fé?! ahahaha
    num creio! jura que pegou o Insustentável? Acho que vc vai gostar! Aguardo os coments, ok?! Beijo!

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  7. Jamiiil! link pra vc ler! o querido Vargas Llosa fala sobre o Romance! Check Out! http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_37/artigo_1159/Em_defesa_do_romance.aspx

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  8. Pat, que coincidência, conheço aquela loja! Fui lá algumas vezes, pois uma amiga trabalhava nela, a Nataly, será que você a conheceu? Ela ficou de abril do ano passado até metade deste. Puxa, adoro a Livraria Cultura, sempre fiz ótimas compras com eles. A Arte do Romance, p.ex., adquiri em francês, estava mais barato que a edição nacional, você acredita?
    Sim, peguei, ainda estou no comecinho mas já completamente envolvido com o livro. Acho que consigo terminá-lo até a semana que vem. Comments coming soon!
    Muito obrigado pelo link, vou ler a matéria agora!
    Beijos!

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